O certo seria imaginar que, com a certidão máxima de comprovação dos direitos que cercam uma união reconhecida federalmente, a obtenção de novos documentos pessoais, de praxe para casais do sexo oposto, não deixaria de ser mera formalidade também para eles. No entanto, não foi o que aconteceu. "Tivemos dois pedidos indeferidos. Alegavam que não poderiam colocar o Claudio como meu cônjuge na identidade militar, que não podiam colocar alguém do mesmo sexo. Então ficou algo incompleto", recordou João Silva.
Foram nove longos meses de espera para fazer valer os direitos que um cônjuge de cabo da Marinha teria normalmente, como, por exemplo, o auxílio-saúde. Na última sexta-feira, a Marinha cedeu e acabou reconhecendo o estado civil do casamento. João Silva e Cláudio Nascimento são, novamente, pioneiros no mundo LGBT. O primeiro casal a obrigar a Marinha a aceitar as novas decisões supremas que eles próprios ajudaram a construir.
O cabo conseguiu uma intervenção do governo federal no caso. A presidente Dilma Rousseff teve seu gabinete acionado, via ofício da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), para que intercedesse a favor dos dois na queda de braço com a Marinha, relutante em consentir o novo estado civil de seu cabo, que há 23 anos serve a corporação.
'Depois que o ministério da Defesa interveio, e a Marinha acatou, o documento que demorava 48 horas saiu em trinta minutos, super rápido", relembrou o militar, mostrando o seu novo documento militar impresso, inclusive, com o número comprovante do casamento: "Livro 00210B Fls 020 ¿ Detran-RJ".
As conquistas dos dois já servem de inspiração para 50 novos casais: ambos foram padrinhos do casamento coletivo homoafetivo ocorrido no último domingo, na sede da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), o primeiro do gênero na história do judiciário brasileiro. Fizeram discurso e viram 40 casais prontamente se manifestarem pela defensoria pública pelo reconhecimento do novo estado civil.
"Foram nove meses de luta, e participar hoje disso, logo depois de conseguir vencer esta batalha, é como um presente para gente", resumiu o cabo, guardando a identidade com cuidado, "porque custou caro".
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